Sunday, May 19, 2013

Os venenos da sociedade


Hoje me inspirei para escrever aqui baseado nos comentários sobre a violência na Virada Cultural de São Paulo. Não vou para o Brasil desde que vim para cá, a quase 6 anos atrás. Enfim, creio que não preciso estar por lá para emitir minha opinião sobre o assunto, principalmente sobre os fatores que colaboram para que haja tanta violência na cidade.

Eu acredito que a violência no Brasil acontece por diversos motivos e não somente por um fator determinante. É um combinado de fatores que nos leva a ser uma sociedade tão violenta. Comentarei sobre o consumo de bebidas alcoólicas, principalmente em público.

Aqui na Nova Zelândia, as leis são bem rígidas em relação ao consumo de bebidas alcoólicas em público. Não são em todos os lugares e a qualquer hora que pode-se beber, especialmente publicamente. É o chamado "Liquor Ban". Ou seja, existem restrições em relação a horários e locais para o consumo de bebidas alcoólicas em público.

No site do Auckland Council (equivalente a uma prefeitura da cidade de Auckland) existe uma explicação  sobre o "Liquor Ban". Vou colocar aqui o que diz no site:

"To encourage a safe and welcoming environment in our public places there are certain areas of Auckland with liquor bans.
These liquor bans are intended to reduce the negative impacts that drinking alcohol in public places has in a particular area and to provide the police with an appropriate tool for dealing with the antisocial behaviour that sometimes follows.
Although alcohol can form a positive aspect of the enjoyment of our parks, beaches and other public spaces, we need to balance this with the need to keep our communities safe and to help create the world's most liveable city."...

http://www.aucklandcouncil.govt.nz/EN/licencesregulations/liquor/Pages/restrictedareas.aspx#current

Vou traduzir o texto acima:
"Para encorajar um ambiente seguro e acolhedor em nossos espaços públicos, existem certas áreas de Auckland com restrições ao consumo de bebidas alcoólicas ("Liquor Ban").

Essas restrições ao consumo de álcool tem a intenção de reduzir os impactos negativos que o consumo de bebidas alcoólicas em público tem em áreas específicas; e para fornecer para a Polícia uma ferramenta apropriada para lidar com atitudes anti-sociais que acontecem em decorrência (ao consumo de álcool em público). 

Ainda que o álcool possa formar um aspecto positivo para o desfrute de nossos parques, praias e outros espaços públicos, nós precisamos equilibrar isso com a necessidade de manter nossas comunidades seguras e criar a cidade mais habitável do mundo." ...

A última coisa que eu quero quando escrevo aqui é ser hipócrita. Quero lembrar-lhes que eu bebo sim (estou vivendo), mas não concordo com o fato de que a bebida deve ser liberada e consumida sem limites. O álcool mata em grandes proporções, assim como o cigarro, mas não damos muita atenção por ser uma droga lícita e descriminalizada. Ou seja, crucificamos os usuários de diferentes drogas ilícitas, por exemplo, a maconha; mas nada fazemos e aceitamos que todos os dias as pessoas se matem de beber álcool e fumar cigarros. Pior de tudo, em público, sem limites e sem moderação.

Quero lembrar que o consumo de bebida alcoólica aqui é bem controlado a ponto de existir um limite para o consumo até dentro de bares e restaurantes. Posso falar isso assertivamente pois além de trabalhar como "pizza chef", sou também bartender. Caso um cliente esteja intoxicado, por lei, não posso servir-lhe bebidas alcoólicas. Pelo contrário, sou obrigado a oferecer-lhe água (para ajudar na desintoxicação) e como parte da condição para obtenção do alvará para a venda de bebidas alcoólicas, o estabelecimento comercial é obrigado a oferecer alimentos, para que também ajude na desintoxicação. Somos inclusive obrigados a manter contatos de empresas de táxi visíveis e caso um cliente esteja aparentemente intoxicado, temos que chamar um táxi para que ele seja levado para casa. Ou seja, indiretamente estamos ajudando para que exista um motorista bêbado ao menos na rua. 

Lembro me muito bem de um episódio que aconteceu a mais de 10 anos atrás comigo em uma empresa que eu trabalhava (uma grande empresa de publicidade e propaganda), onde eu comentei com meus colegas de trabalho que eu considerava um absurdo o fato de que um copo de pinga tivesse um preço mais acessível do que um prato de comida. Comentei que acreditava que para que nosso país fosse melhor, que alimentos básicos como arroz e feijão tivessem isenção de impostos e que bebidas alcoólicas tivessem os preços altos e com muitos impostos agregados para desestimular o consumo. É claro que eu fui muito criticado pelos colegas de trabalho, afinal, a liberdade de consumo para eles era mais importante do que erradicar a fome no nosso país. 

Infelizmente vejo isso até hoje: a liberdade de consumo para as pessoas é mais importante do que o acesso à educação, segurança, saúde, etc. Ou seja, tente privá-las do consumo e uma revolução acontecerá. Tente privá-las do acesso aos serviços básicos e nada acontecerá. Afinal, se você tem dinheiro para pagar por saúde, educação, segurança, alimentação, moradia, do que te importa os problemas alheios??

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